quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

New York, 8 de fevereiro de 2009


No começo é  bom. Uma liberdade até. Você passa e eles não olham, não falam, não querem saber. Não é nada pessoal. Se o Brad Pitt passar também eles não vão nem ligar. Vão dizer “excuse me” e ir correndo, ir logo, eles precisam chegar urgentemente em algum lugar, em qualquer lugar.
Você pode se vestir com as melhores roupas do mundo por aqui, ou com as piores, tanto faz. Eles não vão reparar e, se repararem, você nem vai saber.
Uma amiga estes dias cruzou com uma criatura 100% nua, genitália ao vento, passeando no solzinho de menos 10 graus, às 2 da tarde.
E aí? - perguntei animada.
E aí o que? - Ela respondeu. Isso que dá morar muito tempo em Nova Iorque.
É que aqui tudo acontece o tempo todo, então eles não se impressionam com mais nada.
E isso pega. Sábado de manhã esbarrei com o mesmo senhor em 3 brechós diferentes. Um simpático senhor de seus 70 anos, moicano azul, saia xadrez, botas pretas de cano longo e duas argolas douradas no nariz. Ele estava procurando uma saia nova, eu também. Tá rindo do quê? Eu, hein.
Mas não são só os punks da terceira idade que se beneficiam do blasézismo local. NY é um bom lugar para testar aquela blusa que você comprou no Brasil e nunca teve coragem de usar  ou aquele visual super controverso que causaria alvoroço até na fila do São Paulo Fashion Week. 
Não, ninguém vai rir da sua cara, nem apontar para você na rua. Mas se algum editor hype -trendsetter-coolhunter gostar do look, volte na próxima estação e você vai ver várias pessoas vestidas iguais a você. Aqui tem disso: se alguém notar sua presença, meu amigo, ou você está muito bem ou muito mal. A tarefa é quase impossível. 
Carregar uma melancia no pescoço ainda não tentei, mas carregar 3 malas gigantes e uma TV 25 polegadas nas costas já fiz, e não funcionou. Não despertou o interesse de nenhum rapaz bem (ou mal) intencionado sequer. 
"Excuse me" por aqui não é tradução de "dá licença", mas sim de "sai da minha frente agora". Ninguém te empurra porque eles não gostam dessa coisa de se encostar, mas vai por mim: um "excuse me" novaiorquino bem dado pode jogar você longe no começo. 
Eles não puxam papo no metrô, na academia, na fila do supermercado.  Eles não sabem o nome do garçom nem da moça da lavanderia, mesmo que freqüentem o mesmo restaurante e a mesma laundry por 25 anos. No começo é bom, de verdade. Mas apesar de estar totalmente apaixonada pela cidade, agora que estou aqui há alguns meses já posso admitir: tô com uma baita saudade de passar em frente à uma obra. 

Um comentário:

  1. Oi Patrícia!
    Tenho passado por algumas experiências parecidas aqui em NYC. Concordo contigo, mas discordo também. Não sei dizer se são tipos de pessoas ou tipos de lugares. Mas, que com frequência encontro pessoas simpaticíssimas, e isso me dá uma ligeira noção de humanidade nesse lugar e de que eu tenho que entender quem são essas pessoas e quem são as outras. As outras, são a maioria, claro. Mas muitas vezes me surpreendo. Deixar a expectativa baixa é uma idéia. Sobre o que vc diz sobre alguém se oferecer pra ajudar... acho que isso não acontecerá mesmo. Nem taxistas me ajudaram com minha mudança. Tive que levar minhas coisas de bicicleta. Não entendo o porque. Mas isso é coisa de brasileiro, como já me disseram algumas vezes aqui. Sempre tento ajudar, alguém com TVs de 25" nas costas, estranham com um sorriso largo no rosto e a mesma frase de sempre: "you are so kind!". Mas tento não ser humano demais aqui, porque não sei quem é o outro que está aqui ao lado. Isso pode ser um pensamento geral também. Se não sei como o outro vai reagir, deixa eu caçar meu rumo logo, antes que ele queira fazer algo ruim. A questão é que já fui muito bem tratado e muito mal tratado. Entre um e outro há um abismo. Vale arriscar o vôo?

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