segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Delicadeza


A delicadeza é de uma inutilidade ímpar.
A inutilidade deve ser, aliás, o princípio de qualquer delicadeza.

Delicadeza com objetivo é interesse.
Delicadeza que tem qualquer serventia é favor.

Delicadeza se confunde com outras boas intenções, mas não se engane:
Doar 100 milhões para uma escola pobre depois de uma enchente é caridade
Ceder lugar no ônibus para um velho é educação
Abrir a porta do carro para uma conquista é exibicionismo

A delicadeza não é disso, ela é discreta.
Pequena e tímida -
Um arco-íris que só aparece quando ninguém está olhando.

A delicadeza não sobrevive de aplauso.
A delicadeza não sobrevive ao aplauso.

É uma virgula bem colocada, que não muda em nada o texto: só faz a história ficar mais macia pra quem ouve.

A delicadeza é tão desnecessária que quando o receptor do seu gesto disser :“ah, não precisava”, isso deve ser verdade. 
Não precisava de fato, mas foi feito mesmo assim.

A delicadeza está em tudo que é poético e barroco:
uma carta escrita a mão
as bodas de Ouro
o silêncio.

E  pode estar também em tudo que é absolutamente ordinário e urbano:
um sinal de trânsito,
uma fila de supermercado,
o elevador do prédio

A delicadeza sobrevive em qualquer habitat por isso é curioso que ela seja tão rara.

Existem manuais de como sobreviver na selva,
como proceder em caso de incêndio,
como agir em caso de despressiurização da cabine.

Mas não há literatura que ensine o sujeito a ser delicado.










Um comentário:

  1. É por isso que eu gosto de visitar Blogs aleatórios. Porque de vez em nunca, dá pra achar algum muito belo.
    Patrícia Cardoso, você até que escreve bem para uma EX- BBB (ops). hahahaha
    E não precisa falar que eu não precisava escrever essas coisas, é que posso dizer que sou uma moça um tanto que delicada.

    beijos doces.

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