terça-feira, 11 de setembro de 2012

Amaciante


Difícil apontar ao certo o que a transformou em rocha, mas ela deconfia do amaciante de roupas.
A embalagem ensinava que o produto amolecia de tudo, mas com essa mulher deu-se o contrário.

Começou na palma da mão, como uma alergia. Criou casca. Não demorou pra tomar a língua, pâncreas, tubo digestivo. Quando se deu conta já tinha o DNA de uma montanha.

(Uma pequena felicidade: o spray de banheiro só matava 99% dos germes. Achava engraçado toda vez que lia essa frase e sorria pelo 1% de germes que poupara do terrível destino.)

Outro dia como todos. O homem sentou ao seu lado, puxou conversa com os joelhos, desligou a TV.
-Hoje é dia de dormir com ele – fez as contas - uma quarta. O ano tem 48 quartas, concluiu a matemática. E abriu as pernas.

Ficar ali não era nem ruim, era só uma espécie de morte: solitária e obrigatória. Beijaram-se eternos, dois cadáveres. Mas pelo menos era pra sempre. 

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